Alguém já se perguntou por que ser mulher e capacitada está indiscutivelmente ligado a uma carreira difícil?
Se fala “muito pouco” sobre isso, especialmente em notáveis dias de violência contra o sexo frágil, se contrapondo a própria ideia de sexo frágil (altamente combatida na vida moderna).
Mas, na conformidade de conceitos facilmente desconstruídos na atualidade, ser mulher ainda é sinônimo de menores salários, menores espaços na sociedade, na política, menores oportunidades de ascensão na carreira, e, dentre tantos outros “menos”, menor visibilidade nas organizações públicas.
Ainda que o tema implique em opiniões inconfessas, basta contar nos dedos quantas mulheres assumem funções de chefias estratégicas nas organizações públicas e comparar com o número de homens na mesma posição.
Muitas pessoas defendem que mulher é mais organizada, mais observadora e até mais econômica, que fica imaginando maneiras de reutilizar rascunho ao mesmo tempo em que escreve muito e por consequência, gasta mais papel. O certo é que um ambiente administrado por mulher tem logo a cara de uma mulher, porque elas pensam em tudo, desde como posicionar os móveis, na organização interna dos armários, até em como colocar dentre apetrechos e ferramentas de trabalho, algumas flores e calendários com mensagens diárias.
Mulher inteligente e bonita então é o tipo mais sofredor, enfeita o ambiente, encanta até os desencantados, atrai para si olhares inclusive (e principalmente) de outras mulheres, atraindo a ira geral na mesma proporção de sua beleza!
Mulher tem o difícil papel de conciliar tempo, porque o seu tempo se desdobra entre o exercício de todas as funções que lhe são devidas, mas, especialmente, ser mulher significa chegar em casa e continuar no exercício dessas funções. Porém, sobretudo, ser mulher e inteligente requer ainda maiores sacrifícios, porque implica em viver a provar que também é humana (e não uma máquina) e que não vive em posição de disputa.
O empenho de uma mulher inteligente para desenvolver suas funções com credibilidade é enorme, e só quem vive essa realidade compreende exatamente o que estou falando, porque ser mulher não basta, o ser tem ainda que ser inteligente! E por ser inteligente tem que se empenhar muito mais, “matar um leão por dia”, provar que pode fazer parte de um grupo técnico, participar da tomada de decisões numa mesa de reunião composta na maioria, por homens, palestrar com maestria, discutir alterações legislativas num mundo eminentemente (embora não confesso), machista.
Ser mulher e inteligente te afasta dos setores vizinhos administrados por homens, e o pior que não te afasta somente dos chefes (homens), mas também dos colegas administrados por eles.
Ser mulher e inteligente te afasta também daqueles que se sentem muito especiais (principalmente dos que precisam viver provando isso), nesse caso, os projetos especiais das pessoas especiais tendem a ganhar mais brilho (especialmente se eles tem “poder” para tornar os seus projetos nem tão especiais em mega especiais) e ai, acreditem, estes buscam os holofotes para ofuscar alguma chama que possa reluzir dessas mulheres inteligentes.
Mulheres inteligentes são assustadoras, assustam alguns superiores (que temem ser substituídos por elas), muitos hierarquicamente inferiores, mas assustam principalmente os seus iguais, em especial àqueles que almejam progredir na carreira e vislumbram concorrência. Nessa linha de concorrentes entendo que os homens não toleram ter que concorrer com mulheres (inteligentes) e mulheres (inteligentes ou não), repudiam mulheres inteligentes (com elas não há o que se discutir, porque suas opiniões são de difícil persuasão).
O fato é que mulheres inteligentes tem um desgaste muito maior para se manterem em cargos importantes porque tem que convencer desde os seus colaboradores (a maioria adora mulheres não tão inteligentes, que os deixam agir a seu modo), quanto o publico externo (que primeiro as avaliam de longe e desconfiados, pois, notoriamente tem mais facilidade e acesso a setores geridos por homens, historicamente “chefes”) quanto com o público interno (afiadíssimo para críticas).
Agora, ironicamente, se a mulher for feia (porque ser mulher, inteligente e feia ainda pode, considerando que para muitos, inteligência tem alta relação com “feiura”), tem grande chance de ser bem aceita, mesmo sendo inteligente. Impressionante como a mulher feia é quase desapercebida dessa dificuldade de ser chefe. O que se tem notado nesse contexto é que a melhor ferramenta da mulher inteligente para combater o preconceito, ainda está acondicionada em sua caixa de valores, e isso ajuda muito na árdua tarefa de conciliar “ser mulher” com o “ser inteligente”.
Quando a profissional for capaz de se curvar para a pessoa (e mulher conhece muito bem isso) que existe nela, agindo com humildade e carinho a começar para com seus colaboradores, cultivando o espírito de união, valorizando cada função do fluxo de trabalho, explicando e orientando para despertar “o melhor” de cada um (que irá trabalhar com amor, mesmo ante as maiores dificuldades), o processo de aceitação vem de dentro para fora e reflete na própria imagem do setor.
Então, se você for mulher, inteligente e chefe no serviço público, conseguiu reunir características capazes de lhe propiciar uma das maiores experiências que um servidor pode ter. Faça bom uso da sensacional oportunidade, que te fará compreender no desenvolvimento de suas atribuições o que está implícito em qualquer carreira: “o diferencial dos bons é o mesmo que sempre dividirá os chefes em dois blocos, os que vestem a camisa por amor ao que fazem e os que vestem a camisa por amor ao que ganham”. Impreterivelmente, uns serão sempre melhores que os outros, independentemente de serem homens ou mulheres, é isso (e somente isso) que lhes dará o respeito almejado por muitos e obtido por poucos.